quarta-feira, 8 de maio de 2013


Prazeroso encontro. Ao poeta pernambucano Pedro de Albuquerque, de Poço da Panela, ao seu Alumbramento.

 

 “O poeta se faz vidente por meio de um longo, imenso e refletido desregramento de todos os sentidos. Todas as formas de amor, de sentimento, de loucura; ele procura ele mesmo, ele esgota nele todos os venenos, para só guardar as quintessências”.

( Quintessências - Baudelaire).

 

Alumbramento. Fenômenos enganadores habitam o abissal dessa perversa ilusão cromática. Acontecimentos espetaculares fazem desse universo uma realidade soberana. Entre os amantes, o desejo. Vínculo que aglutina, na certeza que propicia. Cumplicidade inevitável. Temperamental. Às vezes fatal.

A capacidade do trágico na condição humana, o absurdo, entre aspirações e realidade. Para desmascarar o cinismo e o vazio por trás de códigos reguladores, caberia o grito ao ser, sua insatisfação. Mas o homem é um nada. Abandona  aqueles que ama, e também é abandonado. O homem é impotente perante as desgraças que presencia, por isso mesmo finge não as ver.

A necessidade do contato e da reflexão ao tato nos leva à leitura do homem cego. Com certeza sugere uma leitura de código Braile. Extrapola o conceito, para além da objetividade que se pretende em si. Nessas suas entrelinhas nota-se o desencadear de uma escrita sutil que levará o observador para além da leitura que parece sugerir. Na plasticidade estética da sua linguagem existe provocação; desvendar o real atrás da porta.

A meu ver, a arte do cortejar poderá ser sintética. Ou melhor, subjetiva. Atende a um corte esguio e limpo, tendendo ao minimalismo, diria eu. Para não dizer, ao animalismo espetacular.

O tenso momento.  A pressa.  Seria este o agente catalisador de todo o  processo na paixão do  sentimento que avassala. Uma vez exibido, corpos nus, tudo na pressa será desmontado. O licor desse cálice logo se evapora. Sem perspectiva, nem promessas de permanência. O amante então terá que ser hábil ao manter a quintessência, o sabor inerente.

O espetáculo do acontecer é rápido. Logo secará a saliva do beijo. E, as rosas, logo se veem murchas. Tudo será aterrado sob a avalanche avassaladora do momentum. Esquecido será.

Mas, tudo é permitido ao ser quando acredita no seu “Alumbramento”. Sem mentiras. Somente o contato de pele já vale a pena. Às vezes o silêncio aflora, reforça o mistério que o ser emana. Se nada tem a dizer, melhor ficar calado. Nem é preciso justificar.

Amália Grimaldi – Resposta ao “Alumbramento” de Pedro de Albuquerque.Maio, 2013.

 

 

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