Mar aberto a
taça
Perturba-me
esse atual sentido de ausências. Na calçada calada, vazia de passos. Negações desse presente
parecem ai dormir. A ida ao mercado, ao trabalho, e a igreja. Conluio negado.
Aqui dormem alegrias, de muitas vozes de
antes. Alarido contente de crianças que seguiriam rumo a escola. Sinto
ausências. Calçadas estão desertas. No óbvio silêncio vagam apenas gatos. Gatos despreocupados. Mansos, sonsos e macios.
Busco reaver caras imagens de ontem. Estou a correr atrás da minha propria sombra.
Viajo nessas linhas ao melhor destino. Contorno pretenso real. Especulo o visível.
Ouço cores palpáveis. Capturo o imediato sensível, momento que foge ao banal.
E, Por mais absurdo que possa ser, o que se sente não vai durar. Vê? Amanheceu. Parece-me que borboletas azuis
perderam o rumo certo. Contudo, nem
todas as flores despertaram. Parecem ainda dormir. E nesse alvorecer
conturbado, vejo distanciar-se o barco da nostalgia. Já alcança a membrana de
um mar aberto à taça, incerta sobremesa. Um faz de conta. Pois, não sabemos se
é o fim ou o princípio. Pois, minha
satisfação ja veste cor de pudim-de-laranja.
Amalia
Grimaldi “Cronicas do meu tempo”. Melbourne, Julho, 2020.