segunda-feira, 25 de julho de 2011

Ainda me restam trinta minutos




Vê, estou aqui. Gritemos aos pardais de quintais alheios

Entreolhemo-nos em nossos fingimentos

Curtos sorrisos de lado


Vê, o monumento ainda se ergue sã

Só o mundo está prestes a cair

Pedras estão a rolar insanas

Somente a palmeira ainda se ergue sã


Vê, é a agonia de quem pensa maior

No que fazer de suas entranhas

Medonha sinuosa linha de brancos vermes

- Rejeito a sua pena


Vê, são folhas de jornal

Levadas ao vento destas ruas de domingo

É a leveza de despojados

Ao rancor de seus dias descuidados


Vê, ainda restam-me trinta minutos

Para adoçar este café. Maldoso cálice

Resta-me ainda o curto sorriso

Desdobro ao seu respaldo

- Colher rasa de escárnio.

(Amália Grimaldi)

domingo, 24 de julho de 2011

Geleiras: Estudo sobre os Rondós de Silva Alvarenga

Geleiras: Estudo sobre os Rondós de Silva Alvarenga: "Espero que isso ajude um pouco... Vendo agora, eu falei mais sobre o rondó de Silva Alvarenga, vou estudar mais as “outras formas dessa for..."

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Não seria como antes


Não seria como antes

A desculpa
O buraco na parede
Seu gesto de mão
O bom dia
Um pedido de socorro
Esqueci-me do café à mesa
E trocamos mútuas fatias
De pão e melancia
O vizinho cismado
Não seria como antes.

Choro em blues

Iguais e monótonos
São os quadros azuis
Ao longo desse corredor
Pó de cantos nunca espanados
Passo eu e minha bagagem
Em direção ao sujo das ruas
O homem à esquina já chora
Seus acordes em blues
Incomoda-me
O não ser essencial azul.

Ao Sol quintal dos vivos?


Do novo livro de poemas – Penas de Pardal – Amália Grimaldi

À porta de saída

Eu sou. Tu és
Perecível ele é
O que amadurecemos
Ao Sol quintal dos vivos?
Contagem regressiva
Duração do que nos resta
Iludir-se com o final do mundo
O síndico do prédio
Ao lado foi assassinado
Na última terça-feira
Esbarrado de seus motivos
À porta de saída
O alívio do próximo.

Ameaça real
Decidi fazer o mesmo
Os dias da monarquia
Estão contados. Atenção
Ameaça real em Tel-Aviv
Vegetais dormem
Sob tendas de nylon
Ao deserto estéril da paz
Cobrem cabeças o véu
Permissivo Califa
Dançarei em Andaluzia
A complacência do mundo
À terra do outro
Paraíso de vida nômade
Onde becos tem saída
E as distâncias são curtas
Em desvios de atenção
Ameaça real.

domingo, 10 de julho de 2011

Stella Florence: Uma carta de desamor

Stella Florence: Uma carta de desamor: "(Obs.: Este texto faz parte do livro 'Os Indecentes - crônicas sobre amor e sexo') Há algum tempo, condoída pelo fora que uma amiga levara..."

sábado, 2 de julho de 2011

Transpor a Arrábida


Pés na terra
Descer à Península de Tróia
A alma do planeta
O corpo fala
Repicam os sinos
Os muares e seus fardos
Rota para o sul
Transpor a Arrábida
E suas pedras roladas
São tantas delas
Mas nas minhas mãos
Só cabem quatro delas.

Amália Grimaldi

Tarde lisboeta

Morrem as sombras da tarde
Lânguia luz aceno ao descanso
A parede sinto-a ainda morna
Suas cores de pêssego maduro
Ao voo raso faz seu reconhecimento
A ave. Outras mais estarão
À procura de pouso seguro
Ao acalanto da noite descente
Escombros do que era belo
Ainda conservam-se dignos
A casa das aves desgarradas
Em meio a avenida barulhenta
Onde torres de antigamente
Abrigavam seus fidalgos soberbos
Ao regresso de além-mar
Morrem as sombras dessa tarde
À luz do que era antes
Tardes atrazadas à espera
De acenos por acalentar-se
À luz do que era antes.

Amália Grimaldi