sábado, 28 de junho de 2014

A raça e a pitanga...







A raça e a pitanga

O mogno e o vidro
E a coroa de Ciro.
E, do vil contemporâneo,
Essa grande colina erodida:
A descrença do homem.
E, do caído, a fadiga;
O não Ser. O espaço vazio.
 
Da acácia, as cinzas,
O pó, levará o vento.
Mas, a luz, é quem definirá
A sombra e, o contorno do volume.
A prisão do tempo não tem saída;
Tem calendários. Rosas de ventos...
Caros instantes. Raros caminhos claros.
 
Uma despensa escura
E suas prateleiras incertas;
Seus dias. Meus dias. Cansados dias.
Quem ditaria regras?
Não. Não mais haveria discussão,
Entre o tempo e o fermento,
E o sucesso da massa crescida.
Valor de esperas atrasadas
E, o juízo moral. Razão na emoção...
Sublimação temperada.
Insatisfação consagrada.
 
O cálice, a mulher
E o touro.
Da palavra inútil,
Melhor o silêncio, ou
Um resquício de vergonha.
A dosar engano na guia,
Mão exagerada
Ou, bastar-se a si próprio?
Do azedado vinho,
Tardia aquiescência;
Concepção. Percepção.
Princípio aglutinador.
Salada mista de padeiro galego.
 
A torre e o fidalgo
E o quarto aposento.
Degredo. Segredo.
Pisos magnânimos,
Ídolos esculpidos...
Pouca água. Fala à toa.
O óleo secou de vez,
E, a lamparina,
Há muito se apagou.
 
Ser o crente perfeito.
O sentido da Terra faz
Usos e cultos...
O mestre e o aprendiz.
Iniciante discípulo
Almejar melhor destino.
Homens suados carregam seus fardos.
 
Estão surdos.
Não escutam canções de outros. 
E suas línguas, tão espinhosas,
São que nem urtigas.
Queimam a pele da própria agonia:
...Não... Marrano não sou eu...
 
O velho muro
E a verde gosma.
Do tempo, seus musgos,
Nem sempre aclamados.
Do barro a alma,
A fama não salva.
O Éter. O Planeta,
Obra por concluir.
Assisto o retorno do caracol.
Axioma inicial.
 
Abóbora gigante.
Razão do conflito.
A corte no banquete,
Meu mundo.
Amplitude de esfomeados fartos.
 
No almoço do cristão galego,
Cordeiro não seria imolado,
Mas aquela sua faca, era bem amolada,
e o peru, então, seria assim degolado.
 
Europa, Ásia e África...
Povos do Oriente,
Ciganos passantes. Judeus mascates.
Seda persa de outrora.
Ah, e os vizinhos libaneses,
Lhes chamavam de turcos...
A Casa da Torre,
Visão fugidia. Passadiço de agonias.
Rostos de papel sorriem para mim.
Retorno ao altar comum.
 
Brancas são as bênçãos de Oxalá.
As douradas são de Oxum.
Aos fieis de São Lázaro,
Pipocas alvas lhes são ofertadas
(ainda aguardo o meu quinhão...!).
Mas, aos domingos,
A cumprir alheia devoção
Moeda na mão. Coração aberto.
No aspergir de águas bentas:
Alegria de padre galego.
 
...Branco cavalo de Espanha...
Seu arreio é de prata.
Meu tamanco é de pau.
É de meia pataca.
Senhor do Bomfim é meu pai.
Estrela guia me acompanha.
– Oxalá é o maior!
 
Regresso à casa do tempo.
Abro janelas de satisfação.
Estou onde sempre estive.
Ancorado ao mar de dunas alvas,
Logo adiante, seu glorioso contorno:
A Casa do Navio!
Para sempre afundado
Na sina do vertical moderno.
– Resiste na minha lembrança.
 
Cospe o mar ao vento o sal.
A vidraça embaçada.
Amaralina... Estropiada,
E minha alma, enganada.
Volto à casa desse tempo,
De largas varandas...
Oh, tardes salgadas...!
Suadas de nostalgias.
Cio de mulher...
Um cheiro bom de sargaço
Invade meu ar. Me faz plena.
 
Desses meus dias,
O vento e a canção do mar,
E a fala desse seu canto longe,
Prazer de águas... Lágrimas de sal.
Ladainha desassossegada.
(Amália Grimaldi) 

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