A ilusão do ser
Investimos na nossa aparência. Na nossa maneira de falar. Na imagem que gostaríamos de passar. Passamos ao largo da realidade. Somos todos uns pessimistas sorridentes. Esta é que é a verdade. Diante da concepção trágica do mundo não é que todos nós sorrimos?! Em segundas intenções, é claro. É o comportamento chamado social. O céu e o inferno da nossa existência - Rir e chorar. Precisamos da mentira para triunfar sobre a crueldade do mundo. Assim citou o filósofo Nietzsch. Concordo com ele.
O sorriso da mentira. Falso. Por isso, a verdade na crueldade do mundo é encoberta sob o véu da beleza. Uma necessidade de consolo para todos nós humanos. Falo isto olhando para os olhos gentis do meu cachorro, não tão gentil assim, ao morder as mãos do dono. Parece um cordeiro, mas não é. Na verdade, é um lobo em forma de cordeiro. Como as aparências enganam, ein?!
Na arte do sentimento tranqüilizador, na frágil trama da ilusão diante dos fios da mentira frente a um tear de um mundo impiedoso, está a falsidade.
Não. Não estou em depressão. É tarde de domingo...Apenas analisando a realidade, nua e crua. A mentira da boa aparência é a tragédia do homem ao criar um mundo de ilusões onde o abismo é o próprio chão onde se pisa. No cultivo da beleza ameniza-se a crueldade, sem contudo eliminá-la. Atenua-se o medo inerente e constante.Mas, o terror e o absurdo estarão sempre presentes. E agente então se benze. Transpõe a soleira da porta da morada rumo ao mundo lá fora. Na estética do medo está o temor da crueldade e por isso sorrimos. Eticamente falando. Admitir a realidade seria ser pessimista. Então, o ser sorri. Maravilha-se ante o inexplicável incompreendido ao mesmo tempo em que busca uma compreensão a esse incompreendido. É o despertar do ser tirando o homem do repouso da acomodação - nem admira nem se maravilha diante do que vê. É o despertar o ser. Escrevemos o que pensamos. Diremos a poesia do momento. No significado elementar da linguagem humana para a compreensão do indivíduo, ao fazer as nossas experiências explicáveis aos outros, se não a nós mesmos, dá-se a ilusão. É o caso de se vestir a pobreza do pacote em vistoso papel de seda.Na realidade, o homem não tem acesso às coisas do mundo tais quais elas realmente são.Dificuldade que é superada pela linguagem.Embora nomes, sejam encodificações de situações e coisas que nos cercam. Por isso me refugio na poesia. E não são as coisas que determinam a consciência do ser e sim a nossa postura diante dela. A atitude do vendedor perante o comprador iludido sob o pacote do engano.
A linguagem é importante mas não é o espelhamento do mundo real, mas antes, a vocalização em forma de metáforas. Quando esta é esquecida levamos à ilusão da verdade, à essência das coisas. Tanto no sorriso como na modulação das palavras, teremos a ilusão de que no abismo lá embaixo não cairemos, principalmente se outros prestarem atenção ao nosso comportamento, que seria nivelado como normal. É a tal política da boa vizinhança. Aceitar a situação incômoda. Uns se parecendo com os outros. É a estética da moral. É que vivemos o céu e o inferno da nossa existência. Por isso, a crueldade do mundo é a verdade. E a falsidade do sorriso do ser, uma mentira. Amália Grimaldi
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