Prazeroso encontro. Ao poeta pernambucano Pedro de
Albuquerque, de Poço da Panela, ao seu Alumbramento.
“O poeta se faz vidente por meio de um longo,
imenso e refletido desregramento de todos os sentidos. Todas as formas de amor,
de sentimento, de loucura; ele procura ele mesmo, ele esgota nele todos os
venenos, para só guardar as quintessências”.
( Quintessências -
Baudelaire).
Alumbramento. Fenômenos enganadores habitam o abissal dessa perversa
ilusão cromática. Acontecimentos espetaculares fazem desse universo uma
realidade soberana. Entre os amantes, o desejo. Vínculo que aglutina, na
certeza que propicia. Cumplicidade inevitável. Temperamental. Às vezes fatal.
A capacidade do trágico na condição humana, o
absurdo, entre aspirações e realidade. Para desmascarar o cinismo e o vazio por
trás de códigos reguladores, caberia o grito ao ser, sua insatisfação. Mas o
homem é um nada. Abandona aqueles que
ama, e também é abandonado. O homem é impotente perante as desgraças que
presencia, por isso mesmo finge não as ver.
A necessidade do contato e da reflexão ao tato nos leva à leitura do
homem cego. Com certeza sugere uma leitura de código Braile. Extrapola o
conceito, para além da objetividade que se pretende em si. Nessas suas
entrelinhas nota-se o desencadear de uma escrita sutil que levará o observador
para além da leitura que parece sugerir. Na plasticidade estética da sua
linguagem existe provocação; desvendar o real atrás da porta.
A meu ver, a arte do cortejar poderá ser sintética. Ou melhor,
subjetiva. Atende a um corte esguio e limpo, tendendo ao minimalismo, diria eu.
Para não dizer, ao animalismo espetacular.
O tenso momento. A pressa. Seria este o agente catalisador de todo o processo na paixão do sentimento que avassala. Uma vez exibido, corpos
nus, tudo na pressa será desmontado. O
licor desse cálice logo se evapora. Sem perspectiva, nem promessas de
permanência. O amante então terá que ser hábil ao manter a quintessência, o
sabor inerente.
O espetáculo do
acontecer é rápido. Logo secará a saliva do beijo. E, as rosas, logo se veem murchas.
Tudo será aterrado sob a avalanche avassaladora do momentum. Esquecido será.
Mas, tudo é permitido ao ser quando acredita
no seu “Alumbramento”. Sem mentiras. Somente o contato de pele já vale a pena.
Às vezes o silêncio aflora, reforça o mistério que o ser emana. Se nada tem a dizer,
melhor ficar calado. Nem é preciso justificar.
Amália
Grimaldi – Resposta ao “Alumbramento” de Pedro de Albuquerque.Maio, 2013.
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